Eu
nunca achei que aquele fosse ser o nosso último beijo. Não era uma briga, uma
despedida, nem nada do tipo. Era só mais um dos nossos beijos fora de contexto,
arrancados no meio de uma conversa, entre quatro paredes. Nós já havíamos dado
muitos daquele, e eu achava que ainda daríamos muitos outros. Nós nunca tivemos
um fim de verdade, o que às vezes me dá a impressão de que nunca teve um final.
Eu
falava sobre alguma coisa que te irritava. Não consigo lembrar ao certo sobre o
que, mas conversávamos algo sobre sua última namorada. Eu nunca havia gostado
dela e o motivo era tão óbvio, por mais que você nunca tenha se tocado: ela
roubava você de mim. Você me perguntava que espécie de amiga eu era por nunca
apoiar seus namoros e eu comecei a falar algo sobre você nunca ter apoiado os
meus. Você odiava que eu falasse de meus ex-namorados. E aí você me beijou.
Foi
exatamente como todos os outros: algo que me arrancou do chão. Mas, exatamente
por ter sido o último, é o que eu lembro com mais carinho. De vez em quando,
tento arrancar o mesmo sabor em outros beijos que distribuo por aí. Às vezes
tento lembrar se foi mesmo tão bom quanto minha memória guarda ou se tenho
mania de enfeitar mais o passado do que deveria. Eu ainda sorrio só de ouvir
falar seu nome, mesmo sabendo que eu deveria continuar com raiva por você ter me deixado
aqui.
Você
decidiu que aquele seria o nosso último beijo e nunca me mandou um comunicado
sobre isso. Decidiu que me deixaria para trás e nunca discutiu o assunto.
Colocou na cabeça que não tentaria mais me mudar e foi embora da minha vida do
mesmo jeito que passou pela porta do meu quarto naquela noite: rápido e sem
olhar para trás.
Nós
nunca tivemos uma última briga. Nunca pude despejar minha raiva em você. E, por
isso, parece que tudo acabou meio torto, parece que esqueceram de pingar o
ponto final na história, parece que alguém esqueceu de entregar a continuação
do livro. Eu nunca pude saber se a história acabou mesmo, se um dia ela sequer
começou de verdade, se esse é só mais um dos nossos obstáculos.
Eu
não sei se eu já posso seguir em frente de vez e começar uma história que não
vai dar para voltar atrás. Eu não sei se posso formar uma família, se posso te
deletar de vez, se posso me entregar em outros beijos que não sejam em você do
mesmo jeito que eu costumava me entregar. O que eu sei, o que ficou, o que você
deixou, foi apenas que o nosso último beijo continua sem me parecer o último.
E
eu, boba, idiota, louca e sem juízo, coitada, continuo esperando o próximo.
Meu próximo
beijo em você.
Esta é uma série desenvolvida em parceria com a Nanda Campos, para ler a versão masculina desse conto clique aqui.
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